1 de agosto de 2018 - Por Ana Paula de Araujo
Quantas mulheres você conhece que, dia após dia, lidam com a carreira, estudos, filhos pequenos até cuidam dos pais em idade avançada? Esse desafio não apenas prejudica a produtividade como, ainda, diminui a qualidade de vida no trabalho e fora dele. O tempo é um recurso cada vez mais escasso.
No entanto, por que nos apertamos tanto para dar conta da rotina se, depois da aposentadoria, a vida fica tão mais pacata? Este é o pensamento que guiou a psicóloga Laura Carstensen – diretora e fundadora do Stanford Center on Longevity, da Universidade Stanford, nos Estados Unidos –, que defende que só deveríamos começar a trabalhar em tempo integral apenas depois dos 40 anos. Para a pesquisadora, o problema é que nossa vida está organizada do jeito errado.
Nos Estados Unidos, uma mulher de 40 anos possui expectativa de viver mais 45 anos. Para boa parte das pessoas, elas viverão estes anos com a saúde boa o suficiente para continuar trabalhando, desde que ele não envolva atividades físicas intensas. Então, por que concentramos as obrigações com carreira e família em apenas algumas décadas?
A realidade no Brasil pode ser um pouco diferente, afinal, nossa expectativa de vida é ligeiramente mais baixa: 75,8 anos, segundo os últimos dados do IBGE, divulgados em 2017. A brasileira vive, em média 79,4 anos. Isso significa que, depois da aposentadoria, ainda vivemos uma média de 14,4 anos – que poderiam ser melhor aproveitados.
Carstensen compara o molde de trabalho atual a uma corrida de velocidade, na qual corremos intensamente por 40 anos e, de repente, paramos de trabalhar perto dos 65. Essa pausa abrupta pode ser prejudicial à saúde mental dos idosos que, com a aposentadoria, também podem perder status, interação social e até mesmo senso de propósito.
Por isso, ela argumenta que, na verdade, deveríamos estar correndo maratonas – ou seja, carreiras que duram mais, mas possuem mais pausas ao longo do caminho para estudarmos, cuidarmos da família e de outras obrigações fora do ambiente de trabalho.
“O modelo atual não funciona porque falha em reconhecer as demais demandas que tomam nosso tempo. As pessoas trabalham o dia inteiro ao mesmo tempo que criam seus filhos. (…) Nós seguimos neste ritmo insustentável e, então, puxamos a tomada”, argumentou ela, em entrevista ao site do Fórum Econômico Mundial.
É por isso que, para Carstensen, longevidade não é um assunto de ficção científica mas, sim, uma questão de adaptar as instituições para as vidas que as pessoas, de fato, têm: mais longas e mais saudáveis do que no passado.
Para a pesquisadora, a vida laboral deveria ser redistribuída ao longo de uma maior perspectiva de tempo. A educação formal poderia se estender por mais anos – mais precisamente, quem decidiu ter filhos poderia estudar ao mesmo tempo em que cria os pequenos, em vez de tentar dar conta do trabalho em tempo integral, estudos e família ao mesmo tempo.
Idealmente, o trabalho em período integral começaria apenas por volta dos 40 anos de idade – hoje em dia, começamos essa jornada em torno dos 20 anos. Assim, as carreiras seriam mais longas, com uma transição gradual para o trabalho em meio período nos anos que antecederiam a aposentadoria completa, que ocorreria por volta dos 80 anos de idade.
A fórmula de Carstensen poderia nos ajudar a lidar com um dos maiores dilemas das mulheres que trabalham fora: como equilibrar vida pessoal e profissional.
“A falta de tempo para equilibrar carreira e vida pessoal pode acarretar muitos problemas. Quando não encontramos esse equilíbrio, nossa saúde física e mental tendem a ficar comprometidas. Depressão, crises de ansiedade, síndrome de burnout, doenças gástricas, entre outras, são as mais comuns aos profissionais que possuem uma vida desregrada e estressante”, argumenta José Roberto Marques, Presidente do Instituto Brasileiro de Coaching.
Contudo, será que o modelo proposto pela pesquisadora funcionaria no Brasil?
“Concordo e, sobretudo, o respeito por ser um modelo advindo de estudos e pesquisas. Porém para a realidade do brasileiro e de tantos outros trabalhadores ao redor do mundo é um modelo inviável”, diz Marques.
Isso porque, dada a nossa realidade, já iniciamos a vida adulta pensando em como pagar nossos estudos, visto que as políticas públicas não são o suficiente para atender a essa demanda. Muitos jovens começam a se preocupar com isso ainda mais novos, se dividindo entre trabalho e faculdade.
Além disso, a expectativa de vida do brasileiro é menor e, por conta do sistema de saúde ao qual temos acesso, essa sobrevida pode não ter tanta qualidade como acontece em países desenvolvidos, como os Estados Unidos.
“Acredito que estamos um pouco longe deste ‘modelo ideal’, porém, podemos tomar medidas que nos ajudem a organizar mais nosso tempo. Hoje, buscar o equilíbrio é o caminho para uma vida mais tranquila e realizada”, assegura.
Marques dá algumas dicas para ter mais qualidade de vida, produtividade e, consequentemente, longevidade:
Fotos: Fotolia
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